Será que o amante perfeito existe?
Podemos pensar e refletir bastante nesse tema, e também olhá-lo sob o ponto de vista das teorias sociais e do comportamento. Também podemos recorrer à arte e às suas musas idealizadas, ou apenas usar o bom senso ou prestar mais atenção na nossa própria experiência e intuição. Bom, indepentende de qual seja a abordagem escolhida, não haverá uma resposta universal, pois isso implicaria em ausência de mudança, e nós estamos sempre em constante mudança.
Um pouco de filosofia e cinema
Partindo do princípio de que a perfeição não existe, que ela não é mais do que um estado de harmonia entre elementos em um dado momento, e que essa avaliação depende mais dos olhos de quem vê do que da natureza das coisas, então, o amante perfeito não existe. Assim como o marido ou a relação perfeita também não existem. Se a perfeição existisse, os casamentos atingiriam o nível máximo, e ninguém iria procurar um amante.
Essas afirmações são ainda mais fáceis de analisar quando temos em mão a volátil, complexa e inconstante massa humana, com todos os seus caprichos e vicissitudes. Felizmente, não vivemos em teoria, e sim no mundo prático e real, e todos nós já nos sentimos alguma vez na vida perfeitos e realizados ao lado de alguém. E abrindo espaço para a psicologia, sabemos que todo mundo tem defeitos, mas ainda assim concluímos que esses momentos de perfeição são construções pessoais que nascem das necessidades e dos sentimentos momentâneos.
Está nos acompanhando até agora? Bom, vamos seguir em frente e caminhar para um terreno mais otimista, onde se pode encontrar o amante ideal, aquele que o cinema sempre nos vende, por saber como somos sonhadores e insatisfeitos.
Analisando a questão
Ao analisar a questão, a pergunta que deveríamos fazer é se um amante pode ser perfeito. Aí sim, estamos chegando mais perto do conforto emocional, ou meramente físico, que a busca de um amante exige ou, pelo menos, cogita.
No universo dos casados, o amante perfeito é aquele com quem começamos a viver uma vida perfeita, aceitando as diferenças e imperfeições de cada um, em nome de um contexto mais abrangente de entendimento, paixão e afetividade. As rotinas, a família, as exigências profissionais e o desgaste em qualquer vida a dois começam, então, a impor mais atrito em um caminho que se imaginava ‘perfeito’ e harmonioso e, um dia, a perfeição surge com toda a sua ‘irrealidade’. Partimos, assim, em busca de nova ‘perfeição’. Uma em que não impomos exigências, que é mais leve e simples. Um amante, alguém que pode ser ausente de falhas.
Nessa perspectiva, o amante será sempre alguém mais perfeito do que o parceiro primário, já que o amante é alguém de quem não exigimos muito, que não divide aflições, contas e preocupações. É algo leve, divertido. Alguém que não traz bagagem, com quem caminhamos apenas para curtir, e cujas imperfeições são invisíveis ou ignoradas nos breves momentos compartilhados.
O amante perfeito
Vamos continuar nossa análise. O amante perfeito é aquele que, em determinado momento, oferece exatamente aquilo que nós precisamos. Aventura, prazer, leveza, despreocupação, uma fuga das complicações da vida, do casamento e das nossas próprias imperfeições. Porque a perfeição também é a capacidade de nos permitirmos ser felizes, mesmo em um caminho
“mais torto”, que nem sequer contemplávamos em tal ponto da vida. Por essa razão, inúmeras pessoas casadas procuram amantes no Second Love. Talvez esse seja o seu caso. Elas reconhecem, por um lado, que o casamento em que estão não é perfeito, mas entendem, por outro lado, que o amor desse compromisso é real e não pode ser descartado. Assim, apostando em necessidades reais, físicas e sexuais, ou afetivas e emocionais, elas fazem uso de uma saudável racionalidade e procuram aquilo que impede a sua total realização sexual ou pessoal em um outro parceiro, ao invés de acabarem com o casamento, que, um dia, já foi ‘perfeito’, e que ainda pode voltar a ser.
Os finais felizes são superestimados
Por ser novidade, um amante é sempre atraente, mais instigante, alguém em quem qualquer defeito é apenas uma mania ou característica, que não precisamos aprender a conviver. Assim, é mais fácil encontrar um amante perfeito do que uma pessoa perfeita. Os amantes são indivíduos que se encontram em momentos similares, com carências similares, e que buscam peças-chave específicas, para cobrir uma ausência momentânea da vida, e não iniciar uma nova vida do zero. Os amantes também não cultivam o desejo ingênuo de encontrar príncipes encantados e donzelas prendadas, estereótipos gastos pelo cinema e destruídos na realidade. Os amantes procuram inúmeras coisas, mas nenhuma delas é a perfeição. Talvez, por esse motivo, por não ansiarem pela perfeição, é que a felicidade plena acaba sendo sentida. É em uma relação descomprometida, que dura apenas o tempo do encontro, sem
necessidade de cumprir inúmeros requisitos e não decepcionar o outro, sem julgamentos ou exigências, que acabamos nos sentindo mais leves. Porque o prazer é apenas real e não aspira à perfeição; assim, é mais fácil de se mascarar algo perfeito e sem defeitos. E, mesmo que essa ‘perfeição’ tenha existido apenas em um mero segundo, ainda sim ela existiu e o segundo foi perfeito.
Em vez que procurar perfeição em pessoas e relacionamentos, no lugar de sonhar com um final feliz de conto de fadas – superestimado –, por que não apostar em ‘intervalos’ felizes? Em episódios descomprometidos e agradáveis, sem o peso de planos imortais e sem sonhar com um roteiro de cinema? Não vivemos em um filme, e a felicidade pode ser dirigida de muitas formas. Não perca tempo! Descubra as suas.